Espiritismo não pode legitimar mazelas sociais e violências

 


A literatura espírita é rica de ensinamentos que possuem como objetivo o encontro do ser humano consigo mesmo e com a realidade espiritual em si, promovendo o seu senso de transcendência, de espírito em evolução através das vivências diversas, dinâmicas e constantes, de forma a libera-lo de antigos tabus e medos.


No entanto, vê-se dentro dos discursos espíritas a valorização de focos temáticos da literatura, em detrimento de outros temas e focos possíveis. Essa prática, talvez até mesmo inconsciente, carece de análise crítica frente ao que se transmite às diversas realidades que compõem o público espírita.

E por que essa recorrência a determinados assuntos acontece em detrimento de outros? 

Por que o espiritismo foi lançado para todxs nós e cada grupo vai interpretá-lo (ou melhor, focar) e repassa-lo conforme os seus filtros, conforme a sua leitura de mundo, até mesmo a partir da classe social a que pertence, valorizando este ou aquele foco. 

Por exemplo, o discurso sobre resignação diante dos fatos sociais será percebido de uma maneira por grupos sociais que não tem direitos cerceados e gozam de todos os benefícios materiais e sociais que a atualidade oferece, versus grupos que não tem acesso aos mesmos direitos, e passam por todo tipo de privação material e social. 

O primeiro grupo sustentará com alegria o discurso da resignação, da meritocracia e da justiça divina, mas o segundo olhará de forma crítica para o mesmo tema, focando a sua necessidade, enquanto classe, de questionar a realidade a volta e buscar nela os meios necessários para que todos os indivíduos tenham acesso igualitário aos bens que a sociedade atual é capaz de produzir, assim sua tendência é focar em textos espíritas sobre alteridade, amorosidade, partilha, igualdade (e justiça sob outro prisma).  

Percebem as nuances por trás dos discursos que encontramos expostos, em toda a sociedade? E não poderia ser diferente no meio espírita, formado pelas mesmas pessoas, categorias e classes sociais que compõem a humanidade atual.

Mais uma vez reiteramos a importância de se ir as fontes, aos livros; de se dedicar a um estudo individual, a fim de compreender o espiritismo segundo o seu filtro, e fazer dele uma experiência de transcendência, de encontro com a vivência de uma espiritualidade, com ou sem uma religião, mas com a prática do bem, da ética e do bom senso em todas as atividades de nosso dia a dia.

Somente o amor e alteridade conseguem ser evangelicamente justos.

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