TransCendas: o espaço Trans Espírita

TransCendas: o espaço Trans Espírita

Sabe aquele dia em que você amanhece com uma ideia super diferente e imagina: nooooossa, essa noite o desdobramento foi produtivo!!! kkkkkkk. Essa é a história da TransCendas.

Percebam que há três ideias juntas neste título. Primeiro a ideia de ser Trans; depois a ideia de espaço (Sendas) e, por fim, a ideia de transcedência da realidade material para a realidade espiritual, objetivo de estudar espiritismo e alimentar a nossa espiritualidade. 

TransCendas soa como sinônimo de tornar-se transcendente.

Este web espaço pretende reunir o que já temos de estudos sobre Transexualidades, mensagens, exploração de temas que sejam interessantes, enfim, vamos construindo-o no dia a dia. 

E sejam bem vindes todes que se interessarem em dar uma espiada por aqui. Rsrsrs.


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EVOLUÇÃO EM DOIS MUNDOS: A PESSOA TRANS NO PLANO ESPIRITUAL

Olá pessoas, como vão? Lá vem um textão, mas garantimos que vale a pena a leitura! ;)


Escrever sobre espiritualidade é sempre uma responsabilidade muito grande porque mexe com um campo super delicado que é o interior das pessoas. No que se refere ao público LGBTQIAP+ o sentimento de responsabilidade quanto ao que posta é um pouco maior porque trabalha-se a superação das situações de preconceito e homotransfobias, em curso para a declinação em nossas sociedades, regenerando as relações das pessoas LGBTQIAP+ consigo mesmas e as relações da sociedade geral com o público LGBTQIAP+ ('nóis' rsrsrsrs).

Esta postagem passou por longa reflexão, para acertar na interpretação que desejava trazer ao público trans. Certamente fica no ar a pergunta: o espiritismo traz grandes esclarecimentos sobre tantos temas, o que encontramos na literatura que seja favorável a uma postura libertária das pessoas para consigo mesmas? E tudo o que vamos encontrando neste sentido - promover o bem estar espiritual, que conduz o bem estar em todas as demais instâncias do ser humano - vamos compilando e publicando.

Antes de falar sobre a identidade da pessoa trans no plano espiritual, coube falar sobre planejamento reencarnatório. Como temos estudado, e a leitura mais recente do livro Evolução em Dois Mundos só confirma, a reencarnação é um processo natural da vida dos espíritos, que começou lá no princípio evolutivo, quando a inteligência começou os primeiros contatos com o mundo material, de onde tiraria os aprendizados e experiências necessários para o seu desenvolvimento, que deve ser construído por ele mesmo, a partir da experimentação.

No planejamento reencarnatório todos os espíritos fazem o seu projeto de vida, por assim dizer, traçando para si tudo, tudo o que precisam experimentar na nova encarnação para evoluir, para crescer em inteligência, sensibilidade. Tudo, absolutamente tudo na Terra são recursos pedagógicos estabelecidos pelos espíritos em seus projetos reencarnatórios, de acordo com objetivos e necessidades específicas, individuais, em que cada caso é um caso, uma particularidade complexa.

Você pergunta: Então, nessa linha de raciocínio a partir do saber espírita, o espírito trans escolheu ser trans? Sim, analisando segundo o saber espírita, antes de retornar ao mundo físico, em seu planejamento reencarnatório, escolheu ser pessoa trans, porque isso atendia a uma necessidade evolutiva percebida por sua inteligência. Qual necessidade? Não se sabe, era uma necessidade sua, uma particularidade, individual, como todas as demais necessidades de quaisquer outros espíritos; como os que escolhem ser cisgêneros, por exemplo. 

Por isso, atualmente, a partir da expansão deste conhecimento, tem-se a necessidade do trabalho prol alteridade. O consenso atual estabelece que as diferenças não podem se massacrar porque todas atendem a necessidades particulares. Os cismas precisam ser dissolvidos para que cada ser em evolução tenha garantido o seu espaço de expressão, de influência e de contribuição para com a humanidade encarnada.

Agora, encerrada a consideração sobre o planejamento reencarnatório, falemos sobre a identidade da pessoas trans no plano espiritual, seja antes de reencarnar, seja depois do desencarne. A fonte de pesquisa é o livro Evolução em Dois Mundos, psicografia de Chico Xavier e Waldo Vieira, e nos dá conta de que a pessoa trans possui, no plano espiritual, a identidade, a imagem e o corpo que corresponde ao seu mundo psíquico. É nesta linha de raciocínio que Andrei Moreira, no livro Transexualidades sob a ótica do espírito imortal pode afirmar, categoricamente em defesa da pessoa trans, que a redesignação sexual, nas pessoas trans que sentem necessidade desta realização - nem todas as pessoas trans sentem - não "deforma/altera" o corpo espiritual. 

Vejamos o texto:

LINHAS MORFOLÓGICAS DOS DESENCARNADOS - A forma individual em si obedece ao reflexo mental dominante, notadamente no que se reporta ao sexo, mantendo-se a criatura com os distintivos psicossomáticos de homem ou de mulher, segundo a vida íntima, através da qual se mostra com qualidades espirituais acentuadamente ativas ou passivas. Fácil observar, assim, que a desencarnação libera todos os Espíritos de feição masculina ou feminina que estejam na reencarnação em condição inversiva atendendo a provação necessária ou a tarefa específica porquanto, fora do arcabouço físico, a mente se exterioriza no veículo espiritual com admirável precisão de controle espontâneo sobre as células sutis que o constituem (XAVIER, VIEIRA; P.165)
Outro trecho do mesmo livro diz da conclusão evolutiva das identidades sexuais, em que todas, espontaneamente, se transfiguram em um estado não polarizado (masculino ou feminino), ainda desconhecido dos espíritos que se comunicam com a humanidade encarnada através de psicografias, por se tratar das particularidades da vida dos espíritos quando atingem o nível em que são chamados de anjos, vejamos:

DIFERENCIAÇÃO DOS SEXOS - – Como se iniciou a diferenciação dos sexos? – Os princípios espirituais, nos primórdios da organização planetária, traziam, na constituição que lhes era própria, a condição que poderemos nomear por “teor de força”, expressando qualidades predominantes ativas ou passivas. E entendendo-se que a evolução é sempre sustentada pelas Inteligências Superiores, em movimentação ascendente, desde as primeiras horas da reprodução sexuada começou, sob a direção delas, a formação dos órgãos masculinos e femininos que culminaram morfologicamente nas províncias genésicas do homem e da mulher da atualidade.

Não podemos esquecer, porém, que o trabalho evolutivo no aperfeiçoamento fisiológico das criaturas terrestres ainda não foi terminado, prosseguindo, como é natural, no espaço e no tempo. Quanto à perda dos característicos sexuais, estamos informados de que ocorrerá, espontaneamente, quando as almas humanas tiverem assimilado todas as experiências necessárias à própria sublimação, rumando, após milênios de burilamento, para a situação angélica, em que o indivíduo deterá todas as qualidades nobres inerentes à masculinidade e à feminilidade, refletindo em si, nos degraus avançados da perfeição, a glória divina do Criador. É imperioso reconhecer, contudo, que não podemos, ainda, em nossa posição evolutiva, formular qualquer pensamento concreto acerca da natureza e dos atributos dos Anjos, nem ajuizar quanto ao sistema de relações que cultivam entre si. Pedro Leopoldo, 1/6/58  (XAVIER, VIEIRA; P. 181).
Então, esperamos que esta postagem seja válida para as pessoas trans que buscam no estudo espírita conhecimento a respeito de si, da vida, da existência e da transcendência metafísica - como fazemos todes que adentramos qualquer sistema/filosofia/religião. 

Obs: tivemos receio que a postagem se tornasse uma motivação ao suicídio, caso acessadas por pessoas LGBTQIAP+ com esta ideação, uma vez que afirma retorno, no desencarne, a estado correspondente ao psíquico. Relembramos assim, que, também segundo a literatura espírita, o suicídio gera danos ao corpo espiritual como um todo, cuja recuperação, sempre através das novas encarnações, é delicada e demorada, atrasando o processo evolutivo, gerando grandes sofrimentos ao espírito. 

Assim, pessoa trans, foco em seu projeto de vida e viva la vida na certeza de que as pessoas colaboradoras do Plano Espiritual, chamado comumente de Espiritualidade Maior, tá de olho em nós, no sentido de corresponder a nossos melhores esforços no caminho da busca por nossa melhor versão.

Referência

XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo. Evolução em dois mundos. 10º livro da Coleção “A Vida no Mundo Espiritual". Ditado pelo Espírito André Luiz. Federação Espírita Brasileira. Disponível em: <http://www.espiritoimortal.com.br/espirito_imortal/evolucao-em-dois-mundos.pdf>. acesso em 2021.

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A despatologização da Transexualidade


(Esta postagem foi atualizada logo abaixo. Mantivemos esta, desatualizada, a título de linha de tempo) "(...) Assim como aconteceu com a homossexualidade, que foi retirada da lista de doenças mentais pela Associação Americana de Psiquiatria em 1973, seguida pela associação Americana de Psicologia, e posteriormente pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a transexualidade também está a caminho de deixar de ser considerada um transtorno de identidade de gênero, como tem sido descrita pela psiquiatria desde 1993.

(...) Psiquiatras ligados à ONU em diversos países estão empenhados em realizar pesquisas que comprovem que a transexualidade não é um transtorno. O objetivo deles é que a identidade seja retirada da lista de transtornos mentais da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Um estudo realizado no México e publicado na revista científica britânica The Lancet Psychiatry traz resultados que apontam que as transexualidades não são um transtorno psicológico. Nesse estudo, 260 transgêneros e travestis adultos que recebiam tratamento em uma clínica especializada do México foram submetidos a uma série de entrevistas que buscavam abordar questões psicológicas que envolvessem o processo de identificação e as violências que sofriam.

Após uma análise detalhada, os autores do estudo apresentaram resultados que apontavam que os problemas de transtornos psicológicos, quando acometem uma pessoa trans, acontecem por causa da violência e da discriminação social sofrida. Essa pesquisa também faz parte de uma série de estudos realizados no Brasil, Índia, África do Sul, França e Líbano, cujos resultados serão apresentados na 11ª versão da Classificação Internacional de Doenças (CID11) neste ano (2018).

"As mobilizações se organizam em torno de cinco pontos: 1) retirada do Transtorno de Identidade de Gênero (TIG) do DSM - V e do CID-11; 2) retirada da menção de sexo nos documentos oficiais; 3) abolição dos tratamentos de normalização binária para pessoas intersexo; 4) livre acesso aos tratamentos hormonais e às cirurgias (sem tutela psiquiátrica); e 5) luta contra a transfobia, propiciando a educação e a inserção social e laboral das pessoas transexuais".

As pessoas transexuais se sentem constrangidas com o fato de a transexualidade ser um diagnóstico psiquiátrico e o acesso aos serviços médicos e psicológicos serem condicionados a um diagnóstico. Muitas pessoas trans não tem acesso à hormonioterapia ou à cirurgia de redesignação sexual devido a esse empecilho e à dificuldade de acesso.

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Atualização: A transexualidade foi retirada da lista de doenças pela Organização Mundial de Saúde neste ano de 2019.


A Organização Mundial da Saúde (OMS) removeu da sua classificação oficial de doenças, a CID-11, o chamado “transtorno de identidade de gênero”, definição que considerava como doença mental a situação de pessoas trans – indivíduos que não se identificam com o gênero que lhes foi atribuído no nascimento.

Em 25 de maio de 2019, a OMS aprovou uma resolução para remover o “transtorno de identidade de gênero” da CID-11 e criou um novo capítulo no documento, dedicado à saúde sexual. A transexualidade foi incluída nessa nova seção da publicação. A decisão foi celebrada por especialistas das áreas de saúde pública e direitos humanos.

“Esperamos que esta reclassificação impacte positivamente a percepção errada de que algumas formas de diversidade de gênero são patologias ou doenças e que isto facilite o acesso a uma melhor assistência de saúde”, disseram Victor Madrigal-Borloz, especialista independente das Nações Unidas sobre proteção contra a violência e discriminação com base em orientação sexual e identidade de gênero, e Dainius Pῡras, relator especial da ONU sobre o direito à saúde.

Os analistas elogiaram o “grande avanço” representado pela decisão da OMS. A dupla também pediu para países revisarem suas classificações médicas e adotarem sólidas medidas proativas, a fim de eliminar o estigma social associado à diversidade de gênero.

Ainda de acordo com os especialistas, negar a existência da diversidade ou de estilos de vida leva à violência, incluindo o chamado “estupro corretivo” e a “terapia de conversão”. O apagamento da diferença, na visão de Madrigal-Borloz e Pῡras, também está na raiz de tratamentos e procedimentos forçados, coercitivos e involuntários, feitos para “normalizar” a atração sexual e os corpos humanos.

“É hora de o mundo reconhecer e celebrar a rica diversidade da natureza humana”, concluíram (Nações Unidas Brasil).

Referências

BRASIL, Nacões unidas. OMS retira a transexualidade da lista de doenças mentais, 2019. Disponível em < https://nacoesunidas.org/oms-retira-a-transexualidade-da-lista-de-doencas-mentais/> Acesso em novembro de 2019.



Espiritismo TV. Andrei Moreira. Disponível em: <https://www.espiritismo.tv/Vocabulario/andrei-moreira/ . acesso em 2019


MOREIRA, Andrei. Transexualidades sob a Ótica do Espírito Imortal. AME Editora. Belo Horizonte/MG, 2017.


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DO OUTRO LADO DO ESPELHO, EMANOELE

PSICOGRAFIA DE UM ESPÍRITO TRANS


 Sem dúvida é emocionante no meio espírita quando as psicografias nos trazem notícias de entes queridos e das vivências no mundo espiritual. 

As reuniões mediúnicas (sérias) são ambientes de alento tanto para pessoas encarnadas quanto desencarnadas, no intercâmbio de carinho, afeições e auxílios mútuos.

O texto abaixo é uma cópia integral do texto que se encontra no livro Transexualidades sob a ótica do espírito imortal, de Andrei Moreira, em mais esta obra que, ao lado do livro homossexualidade sob a ótica do espírito imortal, configuram grandes contribuições da atualidade para educar-se para a alteridade. 

A sua reflexão, inicialmente voltada para a diversidade das identidades de gênero, pode aplicar-se a todos os contextos em que a pluralidade natural da vida e das vivências são escamoteadas em benefício de conveniências e padrões estabelecidos.

Vamos ao texto:

Espírito Emanoele: 

Já na primeira infância, sentia que algo em mim era diferente. Existia como que uma sensação de não pertencer ao meu corpo, embora ainda não entendesse realmente o que se passava.

Foi ainda jovem que encontrei no espelho a minha melhor amiga, já que nele podia encontrar a imagem de quem eu realmente sentia ser. Envolta em sonhos e fantasias, deixava que meus sonhos se tornassem realidade através da imagem que eu podia ver.

Hoje entendo que muito mais que a minha imaginação, era meu espírito refletido em essência. Na época, não fazia sentido e não tinha a compreensão ampla que tenho hoje. O sentimento de culpa de estar cometendo pecado simplesmente por ser assim atormentava-me todos os dias.

Não foram poucas as vezes que quis acabar com esse sofrimento atroz dando fim à minha própria existência, mas felizmente superei o desafio. Já adulta, consegui, com muito esforço, fazer as mudanças que eram possíveis à época, muito aquém do que a humanidade encontra hoje, mas para mim era algo grandioso. A sensação de bem estar que me tomou quando, então, pude me apresentar como mulher pela primeira vez, é ainda sentida no meu espírito até hoje. 

Vivi uma vida difícil, de preconceitos e discriminações, mas consegui vencer os desafios com luta e dignidade. Quando cheguei aqui, grande foi a minha surpresa ao me apresentar num corpo totalmente feminino, recordando a imagem do espelho.

Não recebi qualquer tipo de tratamento especial, simplesmente fui acolhida por ser quem eu era além das aparências físicas. Aprendi que o que provoquei no meu corpo físico não havia sido algo a ser pago ou culpado, mas uma escolha que naquele momento me fez ver a vida com mais alegria e otimismo.

TransCendas: o espaço dxs Trans Espíritas

Se eu pudesse deixar algo da minha experiência, gostaria de falar a todos que se permitam olhar para o outro lado do espelho e lá, talvez, não só as pessoas trans encontrem as respostas que precisam, mas toda a humanidade possa olhar para sua essência e fazer as escolhas que se identificam com algo coerente com a vida espiritual. 

Obrigada pela oportunidade. 

Do outro lado do espelho, Emanoele. 

(Aqui entenda-se 'algo coerente com a essência que a pessoa percebe em si'. Nota do Blog. Vemos essa nota como necessária porque o entendimento que se tem, por padrão, de 'vida espiritual', se baseia em ensinamentos moralistas, cheios de pesadas obrigações, que mais entristecem e 'matam' o espírito do que colaboram para que construa uma visão libertária de sua existência. A nota se faz necessária para que não se confunda a fala de Emanoele com essa concepção padronizada de vida espiritual, que via de regra se tenta enquadrar a pessoa homossexual e transexual)

 (Do outro lado do espelho, EmanoeleEssa frase final é muito interessante por que ela frisa que do outro lado do espelho era outra pessoa, era Emanoele. Linda mensagem. Nota do Blog)

Nota de Andrei Moreira sobre essa psicografia, publicada também em seu livro:

Mensagem psicografada pelo médium Marcus Ribeiro em reunião mediúnica da Amemg (Associação Médico Espírita de Minas Gerais) realizada em 31 de maio de 2017. 

Esta mensagem foi psicografada ao mesmo tempo em que a mensagem mediúnica que consta como um dos prefácios desta obra, recebida pelo médium Roberto Lúcio Vieira de Souza.

Ao começo dessa reunião, em que eu estava presente, pensei mentalmente que gostaria de ter no livro mensagens dos espíritos acerca do tema tratado. Ainda pensei em brincar com um dos médiuns para ficar atento se os espíritos teriam algo a trazer, visto que como eu já sou o autor da obra, não quis me disponibilizar como médium para o recebimento de mensagens para evitar a influência anímica.

Não exteriorizei o meu pensamento e, ao final da noite, as duas únicas mensagens psicografadas estavam destinadas ao livro, o que recebemos com muita alegria e gratidão.

Ainda havia a presença de outros espíritos que vivenciaram a transexualidade querendo escrever a sua história, mas o tempo da reunião não permitiu que isso acontecesse. Esperamos que elas ainda sejam escritas, e teremos a alegria de compartilhá-las nas próximas edições deste livro.

E nós, cá no Blog LGBTQIA+ Espíritas, ficamos no aguardo, pois tudo o que precisávamos para trabalhar a alteridade era de referências, que nos surgem através destas duas primeiras edições das obras de Andrei sobre o tema e através da própria vivência do autor no tema.

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Estudando Transexualidades com Andrei Moreira 

Os gêneros sexuais são entendidos e vivenciados de formas diferentes, porém com alguma similaridade, em diferentes culturas.
 
Na cultura da Ilha Samoa, por exemplo, existem os fanfines, indivíduos do sexo "masculino" que desde cedo são escolhidos por suas famílias e induzidos a manifestar o gênero transexual, com funções definidas de trabalho pesado e dedicação à família.

as aspas em 'masculino' são por nossa conta uma vez que entendemos essa denominação como algo posto socialmente e acreditamos que o sexo pertence ao ser que o possui.

Assim, um pênis pode ser sexo feminino se a pessoa que o possui assim se identifica; assim como uma vagina pode ser sexo masculino, se a pessoa que a tem assim se identifica. A mesma regra sendo válida para os corpos como um todo.

Continuando a citação de Andrei Moreira:

Cada família dessa ilha tem de um a dois fanfines entre seus membros. São considerados o terceiro sexo, nem homem nem mulher, e podem ter comportamento bissexual. Quando se relacionam com o mesmo sexo, isso não é considerado relacionamento homossexual por essa sociedade, e sim heterossexual, por se tratar de relacionamento entre diferentes gêneros. Segundo estudos antropólogicos, nessa cultura os homens locais geralmente iniciam a vida sexual com os fanfines.

Na Índia, no Paquistão e em Bangladesh, encontram-se os hijras, que formam uma casta específica e se assemelham às travestis ou às transexuais no Brasil.
Podem ser hindus ou mulçumanos.

Segundo a Wikipédia, na cidade de Varanasi, ao norte da Índia, entre os hijras e os jankhas ocorrem rituais de castração ou homens se vestirem como mulher, situações que são aceitas e explicadas culturalmente. (...)

Em algumas regiões do México são encontrados os muxes, pessoas que compõem o chamado terceiro sexo e que não se definem nem como homens, nem como mulheres. (...)

No norte da Albânia, entre os montenegrinos e alguns outros grupos étnicos dos Balcãs ocidentais, local onde se encontram comunidades predominantemente muçulmanas, vige um rígido código de conduta no que se refere aos papéis de homens e mulheres na sociedade.

Algumas mulheres, virgens, podem fazer um voto de castidade perante a família, passando, desde então, a assumir a identidade do sexo oposto, na maneira de se vestir e de se comportar, tendo, inclusive, o seu nome trocado. Elas passam, então a ser chamadas de virgens juradas. Tais pessoas passam a ter o direito de chefiar e conduzir a família, com as prerrogativas de homem, e devem passar a vida sem nenhum relacionamento (...)

Na Malásia, são igualmente reconhecidos cinco gêneros que recebem nomes próprios e aceitação popular. O curioso é que existe a crença de que todos os gêneros devem conviver e coexistir pacífica e complementarmente. 

O sacerdote deve ser sempre um indivíduo hermafrodita ou transexual, que terá poderes sagrados e papel relevante perante a comunidade. Possui aparência andrógina e comportamento particular, dirigindo os rituais de fertilidade tradicionais nessa sociedade.

Pode-se observar, assim, que as diferentes culturas atribuem diferentes valores e interpretações em relação aos gêneros sexuais, com distintos significados antropológicos, bem como repercussões morais e sociais que merecem estudo e reflexão (MOREIRA, 2017).

Referências

Espiritismo TV. Andrei Moreira. Disponível em: <https://www.espiritismo.tv/Vocabulario/andrei-moreira/ . acesso em 2019


MOREIRA, Andrei. Transexualidades sob a Ótica do Espírito Imortal. AME Editora. Belo Horizonte/MG, 2017.

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Ir ao encontro das pessoas trans que estejam às margens

No caso das pessoas travestis e transexuais, creio mesmo que temos uma dívida de amor para com essa comunidade. Se elas não tem vindo à casa espírita, isso se deve, em parte talvez expressiva, à maneira com que são recebidas, aos olhares indiscretos que não ousam dizer nada, mas que fuzilam com a crítica e o preconceito, quando não ao isolamento e exclusão diretos.

Nesse sentido, penso ser dever da casa espírita ir ao encontro dessas pessoas e demonstrar o afeto que conquista e a dignificação pessoal que transforma. Isso significa ir até as ruas ou casas onde se prostituem as travestis e mulheres trans e ofertar uma palavra amiga, um convite generoso e fraterno.

Ou abrir as portas da casa para grupos de amparo às pessoas e famílias de pessoas transgêneras que passam por dificuldade de autoaceitação ou de aceitação do outro, seu familiar.
 
Jesus não aguardava que as pessoas viessem até Ele, Ele as procurava e as consolava em suas dores para logo depois falar ao coração do filho de Deus que se ocultava por detrás daquela persona ou da máscara social, qualquer que fosse ela, sem nunca discriminar, sem nunca exigir. Ele apenas amava.

Para que isso seja vivido, é essencial que a casa espírita se prepare e abra espaço para palestras sobre a temática, perdendo-se o medo tão frequente de abordar temas controversos, o que pode ser conseguido quando olhamos com amor para a pessoa que passa por aquela experiência e percebemos que sua dor e solidão merecem acolhimento e cuidado fraternal.

Também é justo e imperioso que se preparem atendentes fraternos, que eles estejam capacitados a abordar esta demanda, por meio de cursos e seminários específicos que devem ser promovidos pelas federativas locais, seja pela iniciativa das próprias casas, unindo grupos e partilhando os estudos para o benefício da coletividade.

Talvez a casa a que pertençamos não tenha alguém que se sinta apto a esse estudo, porém a casa vizinha o possui, ou o estado ao lado, competindo ao interesse cristão a tarefa de agrupar os trabalhadores no debate e formação específica nessa área (MOREIRA, 2017).

Referências

Espiritismo TV. Andrei Moreira. Disponível em: <https://www.espiritismo.tv/Vocabulario/andrei-moreira/ . acesso em 2019


MOREIRA, Andrei. Transexualidades sob a Ótica do Espírito Imortal. AME Editora. Belo Horizonte/MG, 2017.

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Os "Trejeitos" na visão espírita

Estudando Transexualidades com Andrei Moreira

O trecho utilizado para resposta ao título da postagem é retirado do livro Transexualidades sob a ótica do Espírito imortal, de Andrei Moreira. Nele Andrei coloca:

(...) Vejamos o que Allan Kardec considera sobre o assunto na Revista Espírita de janeiro de 1866.

(...) pode ocorrer que o espírito percorra uma série de existências num mesmo sexo, o que faz que, durante muito tempo, ele possa conservar, no estado de espírito, o caráter de homem ou de mulher do qual a marca permaneceu nele.

(...) numa nova encarnação, ele trará o caráter e as inclinações que tinha como Espírito. Mudando de sexo, poderá, pois, sob essa impressão e em sua nova encarnação, conservar os gostos, as tendências e o caráter inerentes ao sexo que acaba de deixar. 

Assim se explicam certas "anomalias"(as aspas são por nossa conta -rsrsrs- na época de Kardec o termo corrente era esse mesmo. Agora que está cientificamente caindo em desuso) aparentes que se notam no caráter de certos homens e de certas mulheres.
 
O Espírito, pois, mantém gostos e tendências durante a encarnação, o que nos remete à compreensão tanto da homossexualidade quanto do caráter do sexo, expressão que Kardec utiliza para se referir ao que hoje compreendemos como características ou identidade de gênero (MOREIRA, 2017).

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A convivência entre crianças transgêneras e cisgêneras


Uma das grandes dúvidas das pessoas se dá em relação à convivência das crianças trans com as cisgêneras.

O primeiro ponto que deve ser levantado sobre isso é que deve ser assegurado às crianças trans um ambiente familiar, pedagógico e social acolhedor, no qual possam ser tratadas de acordo com sua identidade de gênero e protegidas do bullyng e de toda forma de discriminação que são tão responsáveis por inúmeros danos na autoestima. Para isso são necessárias escolas inclusivas e preparadas para lidar com essas e com todas as outras diferenças.

Independetemente da idade do aluno, o gênero impacta a experiência de uma criança na escola em todas as classes. Há abundante pesquisa sobre a relação entre o sentido de segurança dos alunos e sua capacidade de ter sucesso na escola. O gênero é um dos fatores que impacta extremamente nas percepções de segurança.

Como um agente de socialização primária, as escolas tem uma tremenda oportunidade e responsabilidade de serem inclusivas para todos os alunos, independente de sua identidade de gênero ou expressão. Neste papel, instituições de ensino e os profissionais que lhes estão associados podem impactar significativamente no grau no qual a diversidade de gênero em crianças e adolescentes é vista - positiva ou negativamente.

É função das escolas discutir os gêneros e os papeis que lhes são atribuídos, em uma análise crítica e promotora de expansão de consciência para os alunos. Temas como alteridade, fraternidade, acolhimento, amizade e inclusão são igualmente fundamentais.

(...) Um dos elementos importantes para as crianças transgêneras e sua autoestima é o direito de usarem o banheiro do sexo compatível com sua identidade de gênero, e de não serem obrigados a usar o banheiro compatível com seu sexo biológico.
Esse ponto tem se mostrado de difícil assimilação pelas escolas, pelos pais das crianças cisgêneras e pela sociedade, em decorrência de medos, preconceitos e valores sociais ou religiosos (MOREIRA, 2017).

Referências

Espiritismo TV. Andrei Moreira. Disponível em: <https://www.espiritismo.tv/Vocabulario/andrei-moreira/ . acesso em 2019


MOREIRA, Andrei. Transexualidades sob a Ótica do Espírito Imortal. AME Editora. Belo Horizonte/MG, 2017.


TransCendas: o espaço dxs Trans Espíritas
Ao mudar o sexo o espírito não está mudando uma programação reencarnatória estabelecida para ter os elementos de crescimento dele? Não seria um desrespeito às leis divinas e a Deus querer mudar o que ele definiu?

Inicialmente é preciso compreender que não há mudança de sexo quando se realiza a redesignação sexual ou o processo de transição, que é composto por mudanças comportamentais na expressão sexual, hormonioterapia e transgenitalização.

O que há é uma adequação anatômica ao sexo de sua identidade psíquica. O corpo continua com os mesmos cromossomas, e não há mudança biológica senão na forma e na expressão.

A programação reencarnatória do espírito inicia-se com certas condições de prova que lhe são necessárias ao progresso, no entanto, essas condições não são imutáveis. Muito pelo contrário, elas estão sujeitas à postura do espírito e seu aproveitamento da oportunidade.

Desta forma, podemos compreender que à luz da lei de causa e efeito, da escolha do espírito ou da imposição da lei divina, seja necessário àquele espírito reencarnar em uma condição de luta interior que sedimente o aprendizado do respeito a si mesmo, ao afeto e à sexualidade, conforme podemos apreender com André Luiz e Emmanuel.

No entanto, esse contexto de reeducação pode ser exatamente a luta pela afirmação de sua dignidade e valor pessoal ou a construção da autoestima e conquista de si mesmo que são feitas enquanto a pessoa trans passa pela briga pela autoaceitação e crescimento pessoal.

Nesse movimento, só a pessoa trans sabe do que necessita e considera imprescindível para sua pacificação interior, o que pode incluir ou não a redesignação sexual.

Não creio que a mudança do corpo para se adequar à identidade de gênero possa ser interpretada como desrespeito à Deus ou às leis divinas, pois ela é motivada por um desejo de a pessoa se pacificar, estar em harmonia com o que sente ser a sua realidade, libertar-se da disforia de gênero e do sofrimento que impõe isolamento social e solidão, o que frequentemente acarreta depressões profundas e desejo de autoextermínio ou automutilação (MOREIRA, 2017).

Referências

Espiritismo TV. Andrei Moreira. Disponível em: <https://www.espiritismo.tv/Vocabulario/andrei-moreira/ . acesso em 2019


MOREIRA, Andrei. Transexualidades sob a Ótica do Espírito Imortal. AME Editora. Belo Horizonte/MG, 2017.

TransCendas: o espaço dxs Trans Espíritas
Não podemos chamar a disforia de gênero de rebeldia, falta de resignação ou inaceitação do corpo que se tem, isso seria preconceito e visão estereotipada da realidade. A disforia de gênero possui graus diversos, sendo suportável em algumas pessoas trans e insuportável em outras, que necessitam de redesignação sexual total.

Temos visto na sociedade a construção das identidades trans se desenvolverem cada vez mais, e nesse processo o corpo e a expressão trans sendo validados e reafirmados como dignos e valorosos.

Cada vez mais pessoas trans, sobretudo as que tem acesso ao amparo da comunidade e da visibilidade trans, tem aceitado o seu corpo e se orgulhado de si mesmas como pessoas dignas de valor, espaço, reconhecimento e validação social.
Pode-se observar, então, homens trans que demonstram aceitação do seu órgão genital feminino*, sem necessidade absoluta da transgenitalização, e que expressam isso com coragem e autoestima.

Compreendemos, portanto, que cada ser conhece "as dores e as delícias de ser o que é", como diria Caetano Veloso, e somente cada um pode definir, em um processo de autoconhecimento e autoamor, o nível da aceitação que lhe é possível de si mesmo, de seu corpo e de sua expressão sexual.

O que é inconteste, à luz do conhecimento espiritual e do Evangelho, que a doutrina espírita nos ensina, é que nenhum espírito caminha para adiante no processo evolutivo sem se amar e se respeitar, sem acolher-se integralmente e sem enfrentar as suas lutas necessárias ao aprimoramento de si mesmo.

Mas o que faz e como o faz pertence à liberdade e à individualidade de cada ser, respeitosamente (MOREIRA, 2017).

Deixamos um asterisco na afirmação de Andrei "genital feminino" por que acreditamos que esses termos, no que se refere a nós, comunidade LGBT, carecem de revisões.

Se existe a admissão de que os gêneros são construções sociais é também construção social chamar esse ou aquele genital de feminino e masculino.

Em nossa ótica o genital pertence ao indivíduo que o possui. Um pênis é genital feminino se o indivíduo que o possui assim se identifica. Da mesma forma uma vagina se faz genital masculino, se assim se identifica o indivíduo que a possui.

Referências

Espiritismo TV. Andrei Moreira. Disponível em: <https://www.espiritismo.tv/Vocabulario/andrei-moreira/ . acesso em 2019

MOREIRA, Andrei. Transexualidades sob a Ótica do Espírito Imortal. AME Editora. Belo Horizonte/MG, 2017.


TransCendas: o espaço dxs Trans Espíritas
A minha dúvida é sobre os danos perispirituais que possam surgir dessas modificações 'voluntárias' do corpo físico, afinal, nascemos com um determinado gênero por uma razão específica. Deus não nos quer sofrendo, por isso não há 'punição' para quem o faz, a fim de que sane um tormento moral existente, mas poderiam haver consequências dessa espécie de 'mutilação' (se é que posso usar esse termo)?

Eu abordei esse tópico no capítulo sobre redesignação sexual e afirmei que, em minha opinião e entendimento, não há dano perispiritual, visto que o corpo astral é comandado pelo corpo mental, onde reside a mente e, portanto, a imagem do ser sobre si mesmo. Emmanuel esclarece que:

o perispírito é, ainda, corpo organização que, representando o molde fundamental da existência para o homem, subsiste, além do sepulcro, de conformidade com o seu peso específico. Formado por substâncias químicas que transcendem a série estequiogenética conhecida até agora pela ciência terrena, é aparelhagem de matéria rarefeita, alterando-se de acordo com o padrão vibratório do campo interno. Organismo delicado, extremo poder plástico, modifica-se sob o comando do pensamento.

Esse campo interno a que se refere Emmanuel é o campo magnético oriundo da mente e do sentimento, que comanda todas as manifestações do corpo astral e também do corpo físico.

Desta forma, só há lesão no corpo astral quando há movimento de agressão franca ao corpo, sustentada pela fixação mental ou conectada a questões morais.

Se assim não fosse, os mortos em acidentes e mutilados de qualquer natureza apresentariam igualmente lesões no corpo espiritual decorrente do ato físico, o que sabemos que não acontece, pois o corpo astral reflete o comando mental saudável (MOREIRA, 2017).

Referências

Espiritismo TV. Andrei Moreira. Disponível em: <https://www.espiritismo.tv/Vocabulario/andrei-moreira/ . acesso em 2019


MOREIRA, Andrei. Transexualidades sob a Ótica do Espírito Imortal. AME Editora. Belo Horizonte/MG, 2017.

TransCendas: o espaço dxs Trans Espíritas
A convivência de travestis e transexuais com crianças pode ser uma má influência?

A convivência com pessoas trans não é nenhuma má influência, já a convivência com pais preconceituosos e rígidos no papel de gênero, sim, pode ser muito prejudicial.

gênero e expressão sexual não estão conectados à caráter nem a comportamentos estereotipados. As pessoas trans são tão equilibradas ou doentes quanto as pessoas cisgêneras, pois ser normal ou anormal, saudável ou doente não depende do gênero, mas do caráter do indivíduo, de sua história e suas decisões éticas perante a vida.

Conviver com a diversidade, em qualquer nível, é saudável e promove a inclusão, com expansão de consciência e abertura para novas formas de pensar e existir no mundo, que é diverso, rico em sua pluralidade.

é dever dos pais não só promover a convivência como demonstrar respeito, naturalidade e valorização das pessoas trans. E isso se faz pelo exemplo (MOREIRA, 2017).

Referências

Espiritismo TV. Andrei Moreira. Disponível em: <https://www.espiritismo.tv/Vocabulario/andrei-moreira/ . acesso em 2019


MOREIRA, Andrei. Transexualidades sob a Ótica do Espírito Imortal. AME Editora. Belo Horizonte/MG, 2017.

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Aos familiares de transexuais, travestis e transgêneros, em geral, cabe o dever de acolhimento, aceitação e amorosidade.

Ninguém está em uma família por acaso. Cada membro constela em si a necessidade da família inteira.

Cabe a todos, portanto, acolher a diferença e lidar com o desafio de inclusão, adaptação e promoção de amor nas relações entre os membros da família.

Igualmente, a pessoa trans deve ter paciência e afeto para com os familiares, que levarão um tempo para elaborar o que vivem, sentem e interpretam." (MOREIRA, 2017, p.250)

Referências

TV Espiritismo. Andrei Moreira. Disponível em: <https://www.espiritismo.tv/Vocabulario/andrei-moreira/ . acesso em 2019


MOREIRA, Andrei. Transexualidades sob a Ótica do Espírito Imortal. AME Editora. Belo Horizonte/MG, 2017.

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Gente, o texto de hoje vai falar sobre formas de tratamento.

Como estamos em um mundo que foi padronizado na forma binária e cisnormativa, os pronomes de tratamento correntes e padrões para gêneros são apenas "ELE" e "ELA".

Muitas pessoas trans se descobrem como pertencentes a uma dessas duas identidades de gêneros (padronizado masculino ou padronizado feminino), se enquadram a elas através das vestes, dos hábitos e papeis, da hormonização e cirurgias de redesignação (algumas, nem toda pessoa trans sente essa necessidade).

Mas o que fazer com aquelas pessoas que, depois de um processo de autoconhecimento, se descobrem não binárias?

Vamos entender um pouco o que são pessoas não binárias...

o texto original ta aki, ó:

Não-binário é um dos muitos termos usados para descrever pessoas cuja identidade de gênero não é nem inteiramente masculina nem inteiramente feminina. Os indivíduos que são não-binários podem usar outros termos também como o agênero, queer, ou genderqueer.

Muitas pessoas não-binárias não usam os pronomes ele ou ela porque não se sentem bem. Outras pessoas podem usar ele ou ela, mas ainda não sentem internamente que são inteiramente masculinas ou femininas.

Para mais informações sobre pessoas transgênero e o movimento trans, confira o Centro Nacional de Igualdade Transgênero.

A pessoa não binária vai adotar uma aparência conforme seu gosto individual, seja de uma forma que "parece homem" ou de uma forma que "parece mulher", ou daquela forma que muitos olham e perguntam "o que é isso?" (kkkkkkk) Eu posso falar, sou do meio (he he he).

As pessoas em redor poderão entender que aquele estilo se assemelha aos homens, ou se assemelha a mulheres, ou mistura caracteres de ambos ou busca se diferenciar de todos, enfim, é algo pessoalíssimo.

O fato é que, quando você se dirige a uma pessoa não binária, tratando-a de acordo com o sexo biológico ou de acordo com a impressão que você tem do estilo que a pessoa gosta e cultiva, vai cometer gafe e causar desconforto.

Se a pessoa se afirma não binária não a trate por ELE ou ELA. Não se dirija com afirmações como "LINDA", "LINDO".

Tá, mas nas relações a gente precisa falar com as pessoas, trocar direcionamentos e tal, como vai ser isso? Olha, ainda não existe uma terceira via alternativa ao "binarismo". Há diversas opções em discussão e sem dúvida em alguns anos teremos uma nova forma de tratamento para as pessoas intersexos, agêneras, não binárias, enfim, todas aquelas que não se sentem confortáveis nos termos ELE ou ELA.

MASSSSS.... (tem contexto que adoro uma mas. Rsrsrsrsrs). Mas, uma possibilidade super válida entre familiares e amigos de pessoas não binárias tem sido termos neutros, verbos no infinitivo e constrruções de linguagem que não exprimem gênero.

EXEMPLOS.

Caso 01 - João é cisgênero, se identifica como ELE:
FRASE 01: João, você será coordenador de torcida neste ano.

CASO 02 - Maria é cisgênera e se identifica como ELA.
FRASE 02 - Maria, você será coordenadora de torcida neste ano.

CASO 03 - João é transgêro, usa nome social e aparência de Maria e se identifica como ELA.
FRASE 03 - Maria, você será coordenadora de torcida neste ano.

CASO 04 - Maria é transgênero, usa nome social e aparência de João, se identifica como ELE.
FRASE 04 - João, você será coordenador de torcida neste ano.

CASO 05- João é transgênero e se afirma pessoa não binária, usa o nome de João mesmo e um apelido neutro que gosta muito.
FRASE 05 (IDEAL) - João, você irá coordenar a torcida neste ano.

CASO 06 - Maria é transgênero e se afirma pessoa não binária, usa o nome de registro e um apelido neutro que gosta muito.
FRASE 06 (IDEAL) Maria, você irá coordenar a torcida neste ano.

Perceberam? É assim que trato amigos que se afirmam não binários. Usa-se o nome que a pessoa adotou, seja o seu de registro, um apelido ou nome social neutro, e construções de linguagem que não exprimem gênero.

Espero ter contribuído.

Abraços.

TransCendas: o espaço dxs Trans Espíritas
Bom dia/tarde/noite meus cares, caras e caros!

O artigo rápido de hoje é baseado em um tema de suma importância para a nossa comunidade: o uso do nome social das pessoas Travestis, Transexuais e agêneras. E achamos super importante abordar este tema porque, sendo o espiritismo o Consolador Prometido, cada vez mais pessoas se achegarão a ele.

Cada vez mais a Doutrina Espírita tem atraído a atenção das pessoas de nosso meio e, ao adentrar o espaço das fraternidades, em alguns casos, encontram ambientes despreparados para recebe-las, por desatualização de saberes e/ou de mentalidade.

Vamos começar por algumas definições básicas: a pessoa transexual é aquela que nasceu com um determinado sexo biológico, mas o seu sexo psicológico é oposto a sua biologia.

Assim, homens transexuais são pessoas que nasceram com vaginas, mas ao longo de suas vivências pessoais se perceberam como seres masculinos. Mulheres transexuais são seres que nasceram com pênis, mas ao longo de suas vivências se perceberam como seres femininos.

Alguns de nós procura redesignação do sexo biológico para conforma-lo ao psicológico, mas outra parte de nós não sente essa necessidade e tem na diferença um meio de afirmação social da diversidade. Alguns de nós entende que tentar ajustar-se a um padrão significa negação de que a diversidade existe, é linda e merece que a vivamos com todo o nosso amor, autoaceitação, autoamor e autocuidado.

Não raro a percepção de ser Trans se dá logo na infância, e, dependendo do grau de abertura das famílias, a criança já tem a oportunidade de se experimentar na identidade trans. Travestis também são seres que nasceram com pênis, mas se percebem como seres femininos ao longo de suas vivências pessoais.

O mundo das pessoas Trans tem também aquelas que, independente do sexo biológico, não se percebem como homens ou mulheres, são pessoas agêneras ou neutras em relação a uma identidade de gênero, se designam como 'apenas pessoas', 'seres humanos'.

Tem ainda aquelas que, independente do sexo biológico, se sentem identificadas com outras identidades do meio LGBT. Assim você pode encontrar entre nós variações como as drags e travestis com vaginas (identidades mais comumente atribuídas a seres com pênis) e homens trans que se sentem gays afeminados (identidades também comumente atribuídas a seres com pênis).

Ficou com sensação de 'bagunça' da realidade em voga? Não se preocupe, esta sensação é comum a todas as pessoas que estão se aventurando a conhecer e compreender a diversidade que a vida apresenta.

Percebam que aqui evitamos chamar pênis de órgão masculino e vaginas de órgão feminino. Entendemos que os órgãos são masculinos, femininos ou agêneros conforme a identidade espiritual (psicológica) da pessoa que os tem, e não o contrário.

Após estas breves definições chegamos ao cerne de nosso tema, o nome social. As vezes você vai olhar para o exterior de uma determinada pessoa e pensar consigo: é homem. Mas ao se apresentar a pessoa se designa como Fábia, por exemplo. Isso significa que Fábia é o nome social dela, e independente da impressão que você tenha sobre o seu exterior, você deve chamá-la de Fábia. É assim que ela se sentirá acolhida e respeitada.

Não se deve fazer eventos, orientações individuais, palestras ou qulquer outro tipo de prática com objetivo de que a pessoa 'reverta' a sua identidade. Essa prática, na atualidade, já é considerada agressão a individualidade Trans, uma vez que está definida como uma variante natural humana.

A despatologização da transexualidade ocorreu oficialmente no ano passado (2019) pela Organização Mundial de Saúde, após décadas de reivindicações, debates e buscas dos coletivos e instituições LGBT.

Em outro momento chegará até você aquela pessoa que você vai olhar e pensar consigo: o que essa pessoa é? Inicialmente cumprimente essa pessoa sem atribuir a ela termos ditos masculinos ou femininos e aguarde que ela se apresente a você. Aí sim você passará a chama-la pelo nome e termos com que ela se define.

No Brasil o Decreto nº 8727, de 28 de abril de 2016, reconhece a identidade de gênero das pessoas travestis ou transexuais no âmbito da administração pública federal, autárquica e fundacional, e dispõe sobre a inclusão e uso do nome social em formulários de atendimentos prestados a população. O mesmo Decreto permite que travestis e transexuais solicitem a Receita Federal a inclusão do nome social em seus CPF.


A reflexão deste tema se faz pertinente uma vez que as Fraternidades Espíritas são, na atualidade, o canal inicial de acesso de muitas pessoas a um processo de transcedência da realidade meramente material e encontro consigo mesmas enquanto espíritos, principalmente aquelas pessoas que não conseguiram se afinizar pelas religiões tradicionais em nossa sociedade, o que inclui quantidade esmagadora de LGBT.

Se uma determinada Fraternidade, principalmente nas cidades menores ou periferias dos centros urbanos, não tiver a capacidade de compreender e receber a diversidade humana, deixa de cumprir com este papel fundamental de proporcionar ao espírito a sua transcedência.

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O link vídeo se refere ao evento mencionado ao lado e te levará ao youtube

Vídeo

Sobre mulheres Trans e defesa pela Lei Maria da Penha: momento 6:38 a 6:41

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