Evitar-se interpretação literal de textos "sagrados"

Evitar-se interpretação literal de textos "sagrados"

Anacleto: Toda leitura conceitual deve partir da contextualização histórica e dos interesses subliminares que subjazem aos valores propalados externamente.

No passado da humanidade, em que se viviam tempos de exposição perigosa a intempéries naturais e em que se sofriam epidemias devastadoras e guerras sangrentas em proporções calamitosas quanto constantes, natural que o inconsciente coletivo humano tomasse inclinação por rejeitar sexo não-reprodutivo, manifestando tal tendência nas superestruturas culturais (incluindo, fortemente, a religião) e nos modelos de organização sócio-econômica.

Desde, todavia, que se entende o ser humano como mais que uma mera máquina de reprodução sexual, e que homens e mulheres sejam mais que machos e fêmeas, todas as sutis implicações dessa flexibilização paradigmática repercutirão em novos modelos de família, moral e costumes, bem como leis e diretrizes religiosas. Trata-se de uma questão de desenvolvimento civilizacional, uma tendência histórica irrefreável.

A promiscuidade e os comportamentos indignos é que caracterizam distúrbios psíquicos ou disfunções da personalidade. Não se deve definir o ser humano por seu sexo, nem por suas preferências sexuais, e sim por seu caráter e seu intelecto, bem como pelas contribuições específicas que pode ofertar à sociedade de que é partícipe.

Avaliar-se alguém por seus hábitos de alcova é algo de extremamente retrógrado, primitivo e simplório, denunciando pouca inteligência, cultura, sabedoria e atualidade de quem propõe tal forma de julgamento humano.

A Religião é sempre resistente aos avanços culturais e sociais – sempre foi assim. É uma questão de natureza epistemológica – tem função conservadora, mais que outros campos gnosiológicos, pelas presunções de verdade em que facilmente se deixa envolver. A Ciência e a Filosofia, como as Artes, e outros departamentos do saber e agir humanos são mais livres para esposar idéias novas, mais complexas ou revolucionárias.

Por isso, eis a importância de se afirmar, com veemência, que a interpretação de textos sagrados jamais deverá ser literal. Todo literalismo revela ou estultícia de quem o faz ou, muito pior que isso: más intenções. Jesus e os grandes mestres da religião e da espiritualidade jamais rejeitaram qualquer forma de amor.

Somente os homens, sobretudo os doutores em teologia, contaminados por suas pretensões de superioridade e impregnados de concepções inteiramente ultrapassadas, cunharam editos contra mulheres, homossexuais e artistas, bem como cientistas e livres-pensadores, no carreiro dos séculos.

É hora de se parar e se pensar, com critério e lucidez, no que se diz e no que se prega. Não adiantou que grandes autoridades teológicas queimassem vivos em fogueiras sagradas os ousados homens de ciência que se atreveram a dizer a Terra era redonda. Ela nunca deixou de ser. Mas a culpa dos que agiram mal perdurou, de qualquer forma, para além, muito além daqueles dias insanos…(AGUIAR; ANACLETO, 2001)

Anacleto.
Referência

AGUIAR, Benjamim Teixeira de. Anacleto, Espírito. Assembleia Sobre Homossexualidade. 2001. Disponível em<http://www.saltoquantico.com.br/2001/05/15/assembleia-sobre-homossexualidade/> Acesso em abr. 2017

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