O sexo na visão libertária do Espírito Joana de Ângelis

[...] Nas faixas primárias da evolução, o fenômeno tem por objetivo apenas a reprodução da espécie, em razão da falta de equipamentos nervosos e emocionais para a formulação do prazer. À medida que o instinto se fixa no ser vivo, surgem sensações fortes que logo passam, transferindo-se para a criatura humana em cargas sensoriais expressivas, que lentamente, à medida que se desenvolve a emoção, produz mais profundos estados de gozo, proporcionando equilíbrio, alegria de viver e salutar intercâmbio hormonal, tanto físico quanto psíquico.

A união sexual é fundamental à existência humana, por cujo contributo a vida se expressa, facultando as reencarnações dos espíritos, a união afetiva e a responsabilidade entre os parceiros que se elegem e se vinculam através do tempo, estímulos à arte e à beleza, ao trabalho e ao progresso, à busca da felicidade.

A ignorância cultural e as frustrações de indivíduos atormentados, no passado, amargurados pelos conflitos, rotularam o sexo como manifestação apenas da animalidade predominante no homem e na mulher, denominando-o pecaminoso e imundo. A sua função é digna e estabelecida pela natureza como essencial à reprodução, sem a qual a vida física se extinguiria.

Em consequência, os atavismos religiosos ultra-montanos encontraram uma forma de manter a castração sexual, determinando que somente deveria ser usado o sexo para a finalidade procriativa, como se a Divindade estabelecesse limites no sentimento do amor, determinando que uma expressão dele é nobre enquanto a outra se apresenta abjeta.

Não têm, pois, razão, aqueles que assim pensam, porque a questão mais profunda não se limita à união dos sexos, mas à mente que se deixa viciar, procurando mecanismos eróticos para conseguir novas e estranhas sensações a que se permite, transformando a finalidade relevante da convivência com um parceiro em instrumento para a permissividade doentia.

[...] a herança perversa em torno da sua finalidade, como de condenação, remontando à expulsão do primeiro casal do paraíso, gerou, na mulher dos tempos idos, sofrimentos injustificáveis, que ainda remanescem em algumas doutrinas religiosas arbitrárias, que ao invés de libertar as criaturas, escravizam-nas; textos esdrúxulos de profetas transtornados e fundadores de religiões incapazes para a vida sexual...

[...] O amor, na função sexual, é muito importante, mesmo do ponto de vista fisiológico, porque a liberação da oxitocina proporciona harmonia, já que esse hormônio é responsável pela sensação de paz que os parceiros experimentam no clímax da coabitação. A máquina cerebral é tão extraordinária na sua funcionalidade que, nesse momento, também libera opióides que respondem pela satisfação e alegria derivadas da comunhão orgânica, impossibilitando os atritos e as disposições agressivas.

Desse modo, a comunhão sexual contribui poderosamente em favor da harmonia entre os parceiros, melhorando os grupos sociais, evitando as costumeiras agressões e crueldades. Nos indivíduos satisfeitos sexualmente e harmonizados, sem os conflitos angustiantes e perturbadores da insegurança, da timidez, da inferioridade, predominam a alegria de viver, o bem-estar em relação à existência, o desejo natural da procriação(aos heterossexuais - nota do blog), da proteção à família, da boa luta em favor do progresso pessoal e da comunidade.

Na função sexual encontram-se muitos fatores que propiciam a paz assim como os conflitos, dependendo da conduta e do estado em que se encontrem os indivíduos masculinos e femininos. Aqueles, porém, que transitam no corpo sem parceria, nem por isso devem entregar-se ao desencanto, à melancolia, à infelicidade. Direcionando a mente para os ideais de beleza, de fraternidade, do trabalho na arte, na pesquisa, em qualquer área em favor da auto-realização, experimentam equivalente bem-estar, idêntica satisfação em face da liberação de outros hormônios como a dopamina, a betaendorfina, que os reconfortam.

Assim sendo, nada obstante a necessidade da comunhão sexual, não somente através dela é possível a harmonia, mas também mediante outros mecanismos de realização pessoal, social e espiritual. O ser humano é, antes de tudo, o espírito que aciona o corpo e não somente o seu cérebro.
Como é certo que os hormônios são responsáveis pelas ocorrências do prazer e do desconforto moral, da harmonia como da agressividade, da alegria como da tristeza, é o espírito que imprime nos neurônios a capacidade de produzir este ou aquele neurotransmissor responsável por tal ou qual finalidade (ANGELIS, FRANCO, 2007, p.82).

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