O que um heterossexual pode temer de gays?

Espírito Roberto Daniel: Defesa em causa própria – muitos o dizem, quando veem um homossexual defendendo a causa gay, como se isso fosse o padrão, como se fosse fácil empreender qualquer ordem de militância em favor de minorias desfavorecidas, como se conhecer a tragédia de perto (e melhor seria não conhecê-la, para os que a vivem pessoalmente desde o berço) fosse algo que desautorizasse, em vez de autorizar mais ainda, alguém a falar sobre o assunto que o aflige.

Neste mundo de hipocrisias e de acomodação às conveniências, por sinal, o normal é não haver autenticidade nas criaturas, e não só não se defende a própria causa, como também – consequência bem natural da frustração e da inautenticidade – se perseguem aqueles que advogam o direito de se manifestarem qual realmente são e não como se espera que sejam.

É curioso, por outro lado, no quesito da homofobia, que os mais furibundos detratores do movimento de concessão de liberdades civis a homossexuais revelam (conforme qualquer psicólogo de almanaque afirmaria, sem pestanejar) sérios problemas na área da definição sexual, o que os propele a tentar converter o mundo à heterossexualidade (como se isso fosse necessário, já que é tão natural como a homossexualidade – e, para eles, mais natural ainda que esta), porque… não estão muito seguros do que são. Ou seja: os homófobos constituem uma das classes mais contraditórias de ser humano que se podem conceber.

O que um heterossexual pode temer de gays? Parece ridículo, mas vou dizer o óbvio: não somos concorrentes dos heterossexuais! Somente bissexuais podem ser postulados como matéria de disputa entre os dois grupos (risos), mas não vamos incluí-los neste debate, para não problematizar um assunto já tido como tão complexo – inobstante me ria demais, de algo tão natural ser visto como um “monstro de sete cabeças”. Isso mesmo: natural, porque a Ciência afirma que, seja por predisposições psicológicas ou por programação genética, ninguém se torna ou é induzido a se tornar homossexual.

Não havendo contágio gay (porque, se houvesse, não haveria gays na Terra, já que todos somos paridos por heterossexuais), a liberação homossexual apenas trabalha para aplacar, por exemplo, o vergonhoso cinismo de “pais de família” com vida gay oculta e promíscua, levando DST’s para as esposas, entre outras dissimulações patéticas, todas filhas diretíssimas da homofobia.

É isso que se consegue condenando-se 10% da humanidade à clandestinidade: os gays continuarão gays (porque não se modifica algo que é estrutural e não conjuntural na psique humana, como a preferência sexual), mas não sofrem sozinhos a perseguição doentia, incompreensível e injusta que padecem – levam consigo oceanos de esposas, maridos, prostitutos e crianças frustrados e doentes com o desequilíbrio de lares disfuncionais (de tanta infelicidade e tormento dos pais), no carreiro da insensibilidade que os menos fortes psicologicamente e maduros moralmente devolvem (o que é muito bem empregado) à sociedade homofóbica e hipócrita, em retribuição a seu ataque desumano ao segmento gay que a constitui. Roberto Daniel (AGUIAR; DANIEL, 2009).
Referência

AGUIAR, Benjamim Teixeira de. DANIEL, Espírito Roberto. Defesa ou Panegírico Gay? 2009. Disponível em<http://www.saltoquantico.com.br/2009/09/15/defesa-ou-panegirico-gay/> Acesso em abr. 2017

Comentários

Postagens mais visitadas