Sou LGBT e estou pensando em suicídio. O que o Espiritismo tem a me dizer?

O título do texto está inicialmente  direcionado ao público LGBT por ser este o público do Blog, mas o teor da postagem se destina a todas as pessoas que pensam em suicídio, independente de identidade de gênero e sexualidade, bem como a amigxs e familiares que queiram auxiliar conhecidos com tendência suicida. 

O Espiritismo se empenha cotidianamente em Campanhas em defesa da Vida. Por isso nós, aqui no Blog LGBT Espírita, trazemos para você que, devido a conflitos pessoais, familiares ou sociais, tem pensado em suicídio, esclarecimentos fundamentais como o que é a vida segundo o espiritismo, o que é a morte segundo o espiritismo e algumas reflexões que podem te auxiliar. Traremos um pouco também sobre homossexualidade e autoaceitação.

Aí vc pode se perguntar: mas porque eu devo acreditar nessas explicações SEGUNDO o Espiritismo? Convidamos você a analisar as explicações porque somos pessoas engajadas na vivência desta espiritualidade e todos os elementos que a cercam, ou seja, os estudos constantes e o diálogo com a espiritualidade através das diversas formas de mediunidade, em Fraternidades Espíritas Kardecistas. 

1 - O que é a vida

O Espiritismo nos ensina que cada pessoa é um Espírito em desenvolvimento constante. As suas habilidades, inteligência, capacidade de amar, de se doar aos outros, de ser 'do bem' vão se aperfeiçoando a medida em que ele vive diversas experiências ao longo de sua vida. 

A vida, assim, é um grande laboratório de experiências, em que cada Espírito (você, eu, nós) vai testar a si mesmo, e através das experiências personalizadas que vivencia vai se desenvolvendo, cada um a sua maneira, de forma totalmente única e personalizada, segundo aquilo que cada fato de sua vida o faz sentir, analisar, refletir e acumular como experiência. Assim, não existe, em todo o universo, alguém igual a você, a mim, aos demais que nos cercam. Cada pessoa é verdadeiramente única. 

Ao concluir um período de vivências, que sejam dias, meses, poucos anos, ou 60, 70, 90, 100 anos, o Espírito é desligado do corpo que habitou, através da morte, pela espiritualidade superior (a título de entendimento, a espiritualidade superior corresponde aos anjos do saber católico e evangélico), e retorna para a vida espiritual em corpo menos denso, que chamamos de perispírito, e os católicos, evangélicos e demais religiões cristãs chamam de alma (também usamos o termo alma, mas o nome científico espírita é perispírito). 

No mundo espiritual a vida prossegue, também recheada de atividades cotidianas, de tal forma que muitos espíritos demoram a entender que desencarnaram, tamanha a semelhança da vida do outro lado com a vida do lado de cá. Por lá prosseguem seus trabalhos, estudos, conforme os interesses que cultivaram na Terra.

Mas, para o progresso constante, é necessário que haja novas encarnações. Cada Espírito precisa reencarnar, seja para ajudar a sociedade terrena a se desenvolver, seja para continuar atividades que começou na Terra e gostaria de nelas continuar; seja para auxiliar familiares e amigos a superar dificuldades e ser pessoas melhores; seja simplesmente para voltar a viver junto a grupos afins, mas o fato é que reencarnar visa sempre a continuidade do progresso de cada ser e sempre segue um planejamento reencarnatório. 

Os relatos mediúnicos nos dão a saber que  a tendência suicida, na maioria das vezes, é reflexo de encarnações anteriores, em que a pessoa cometeu um suicídio e solicitou, ao voltar para a vida espiritual, nova oportunidade de vida na Terra, para concluir tarefas, aprendizagens e vivências que interrompeu ao se matar. 

A tendência suicida está presente no fundo do coração da pessoa, não é mesmo? Mas também está presente o enorme desejo de resistir, de continuar a viver,  de concluir sua vida, construindo e lutando por planos, sonhos, não é verdade? Pois é. Esse desejo enorme de resistir vem do compromisso de vida e progresso que você assumiu em seu novo plano reencarnatório: viver até o fim, até o envelhecimento natural do corpo carnal, e no meio deste trajeto construir a si mesmx, se edificar e ajudar as pessoas que estão a sua volta a ser pessoas melhores, mostrando maneiras de viverem melhor. 

A pessoa que hoje pensa em suicídio já o cometeu em outras existências, e ao renascer recebeu nova oportunidade para viver ao invés de cometer novo suicídio. Recebeu nova oportunidade para superar dificuldades e viver até o fim natural do tempo previsto para a sua encarnação.

Aí você me pergunta: E porque não me lembro disso? Por causa de um processo de esquecimento temporário do passado pelo qual passa todo Espírito ao reencarnar. Durante uma vida ele esquece as anteriores, justamente para não repetir experiências passadas e se permitir novas aquisições e atitudes. Ao retornar ao mundo espiritual recobra as suas recordações passadas.

2 - O que é a morte

A morte, ou desencarne, como se diz no meio espírita, é o processo através do qual o Espírito (você, eu, nós) é desligado do corpo denso, ao fim natural de vivências que estabeleceu em seu planejamento ao reencarnar, e retorna ao mundo espiritual. 

Em nossa interpretação comum ao dia a dia há sempre um motivo, ou uma desculpa, para que a gente saia do plano físico: acidentes de carro, dengue, gripe H1N1, sarampo, desastres ecológicos com vítimas humanas, quedas, esgotamento natural na velhice, etc... mas do ponto de vista espiritual houve o cumprimento de um plano espiritual de vivências, que poderia durar apenas algumas horas ou uma vida inteira.

A morte, ao contrário do que pensa uma pessoa com tendência suicida, não é o nada depois; não é um sono profundo; não é encontrar paz e tranquilidade; também não é se tornar algo diferente do que você já é; ou seja, a alma, ou o perispírito, não é algo diferente, melhor ou pior do que você já é. 

Após a morte a pessoa se nota exatamente da forma como era antes, sentindo as mesmas angústias, as mesmas dúvidas, possuindo a mesma identidade e tendências que já tinha; e, se cometeu suicídio, carrega consigo o remorso pelo suicídio cometido, a dor por saber que parentes e amigos foram marcados por todas as suas vidas pela memória do suicídio de uma pessoa conhecida. 

Obras psicografadas nos dão a saber que a pessoa suicida, ao chegar no plano espiritual, se vê envolta de grande dor ao se dar conta de que do outro lado não há soluções prontas para as questões que a levaram ao suicídio. 

Não há forma de aniquilar-se, você é espírito e não somente um corpo pensante, 'sentinte' e falante. Mas há formas de se reconciliar consigo mesmx, com os fatos de sua presente vida, o que deve ser feito aqui, na vida atual, uma vez que uma pessoa com tendência suicida é alguém que se comprometeu a viver justamente para reaproveitar um tempo que perdeu ao se matar em vida anterior, compreende? 

Autoria: Espitirinha de Wilton Pontes

3 - Reflexões que te ajudarão no autoconhecimento, autoaceitação e autoamor.

* Note se você está sendo vítima de homofobia internalizada. A homofobia internalizada é apresentada pra gente da seguinte forma pelo médico espírita Andrei Moreira (se você não o conhece, é alguém que fala por nós com conhecimento de causa, uma vez que é homossexual, casadíssimo com o designer Ney Nicolato):

As pessoas homossexuais, educadas em um ambiente heterossexista e discriminatório desde pequenas, em sua maioria aprendem a negar seus desejos, interesses, gostos e tendências, desenvolvendo a autorrejeição e a negação de seus sentimentos. 

Frequentemente chegam a envolver-se afetiva e sexualmente com uma pessoa do sexo oposto na busca de adequar-se àquilo que é esperado delas no contexto familiar e cultural em que se encontram, o que pode gerar consequências desastrosas para si e para os outros, quando isso não represente o desejo e o sentimento reais do indivíduo. 

Essa negação e autorrejeição é chamada pela psicologia de homofobia internalizada e representa o aprendizado cultural do desamor por si mesmo. "Falamos agora de uma forma perniciosa de autoinjúria, quando, ao ser exposto continuamente à multidão de mensagens, imagens e valores negativos da cultura atrelados à homossexualidade, muitos indivíduos homoeroticamente inclinados aos poucos constroem, sem de todo perceber, uma negação aliada a um preconceito interno contra qualquer tipo de expressão desse Eros que, no entanto, abrigam: é o que chamamos de homofobia internalizada (MOREIRA, 2012, P.81)

O antídoto possível para a homofobia internalizada é praticar o exercício da autoaceitação, descrito também por Andrei Moreira:

A pior situação que podemos viver é passar toda uma existência sem nos dar o devido amor e respeito, fazendo coisas completamente diferentes do que sentimos. Se não nos aceitarmos, quem nos aceitará? Se nós não nos amarmos, quem nos amará? Somente optando pelo autorrespeito é que conseguiremos o respeito alheio. A homossexualidade, enquanto condição predominante ou exclusiva do ser, apresenta-se como uma variante do comportamento sexual natural humano. Portanto, uma condição passível de construção da felicidade, na dependência das decisões íntimas da pessoa homossexual e do seu consequente comportamento social. A autoaceitação é o primeiro passo para uma vida plena. Aceitar quem se é, o que se vive, é o passo fundamental, a base sobre a qual se constroi o edificio da vida realizada no amor. Um indivíduo em luta contínua consigo mesmo, abrigando processos autodestrutivos, perde a oportunidade de reconhecer que cada um tem um brilho próprio no universo e é uma experiência de amor singular do criador. Diz-nos Hammed: Em certas circunstâncias evolutivas encarnamos como homem; em outras, como mulher. E, ainda, em determinadas oportunidades de aprendizagem e de renovação, o Espírito pode vir ocupar uma vestimenta corporal oposta à tendência íntima que vivencia (pessoa trans). O fenômeno é análogo ao que se refere à área masculina tanto quanto à feminina. Independentemente da forma de sexualidade que estamos vivenciando no presente, procuremos aceita-la em plenitude, visto que há sempre, em qualquer condição, a oportunidade de adquirirmos experiências e, por consequência, progredirmos espiritualmente, vencendo desafios e promovendo realizações. Devemos assim viver em paz com nossa experiência sexual atual, valorizando nosso aprendizado e, em tempo algum, culpar-nos ou atribuir culpa a alguém. (...) Autoaceitação representa autoconhecimento e relaçao amorosa, pacificada, consigo mesmo. Autoaceitar-se é reconhecer que ninguém pode ser nada mais, nada menos que ele mesmo e que a beleza da vida está não em espelhar-se no outro, mas em reconhecer a própria unicidade, inspirando-se na experiência complementar e enriquecedora da convivência social, para o crescimento contínuo em direção ao progresso moral e intelectual (MOREIRA, 2012, p.177).

Acreditamos que estas reflexões com Andrei Moreira colaboram em uma tomada de decisão sua no sentido de se reconciliar consigo mesmx. No mais, caso perceba que a dor está muito grande e sozinhx você não vai conseguir superar o desejo de morrer, procure ajuda. 

Não sei qual a sua crença, mas comece a procurar essa ajuda a partir da espiritualidade. Um pensamento com pedido de ajuda que você direcionar ao plano espiritual já desencadeia toda uma movimentação de espíritos amigos, que vão com a sua cara, para te conduzir a caminhos de sucesso em seu desejo de resistir.

Espitirinha de Wilton Pontes

Procure dividir com pessoas de confiança o que está sentindo. Tenho uma amiga que sempre me procura para contar suas angústias e ela sempre me diz que ao ir falando vai compreendendo a si mesma e encontrando as soluções. 

Caso queira um canal de atendimento para conversas 24 horas, teste o CVV clicando aqui. O CVV – Centro de Valorização da Vida - realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias.

Você pode ainda procurar, de forma particular ou via SUS, um atendimento e acompanhamento psicológico. A/o profissional em psicologia vai auxiliar você no processo de autoconhecimento e condução dos conflitos. Procure a secretaria de saúde do seu município para se informar como funciona o atendimento psicológico pelo SUS.

No mais, dicas do Blog: 

*Seja mais você. Não deixe que a opinião alheia te diminua. 

* A sua homossexualidade faz parte das expressões naturais da sexualidade humana e mais que isso, é uma das formas de sexualidade presentes na natureza. Sempre existiu. É praticada por diversas espécies na natureza. Foi reprimida pela humanidade em momentos de grandes guerras, em que reproduzir era caso de sobrevivência da espécie humana. Hoje é reconhecida como variante do comportamento sexual normal e não mais faz parte da lista de doenças psicológicas. Informe-se sobre todas essas questões. Leia muito, estude. Informação é sua ferramenta contra preconceitos.

* As identidades transgêneras podem passar por conflitos com a própria forma, com o corpo que habitam, mas lembre-se de que procurar se enquadrar a formas é dar o braço a torcer para os padrões estabelecidos e ajuda-los a negar o diverso na humanidade. Seja você mesmx. A Organização Mundial da Saúde, neste ano de 2019, retirou a transexualidade da lista de doenças mentais, admitindo que estas identidades fazem parte do diverso humano. Informe-se sobre todas essas questões. Leia muito, estude. Informação é sua ferramenta contra preconceitos.

* Tenha firmeza em planos para a vida, dando os passos que são necessários para a realização, aguardando o tempo que é necessário entre o primeiro passo e o resultado que você espera alcançar. A espera faz parte do processo e as vezes uma espera pode durar anos. Trabalhe pelos novos planos enquanto aguarda os resultados do primeiro.

*Nos relacionamentos amores vem e vão. Se um te deixou é porque um novo pode estar a caminho. E cada amor faz parte de uma nova fase de nossas vidas. Com o passar dos anos, amadurecendo, você vai notar que cada um colaborou para a sua formação pessoal, deixou impressões e aprendizados, ainda que seja 'como não ser', 'como não tratar uma parceria', 'como ser uma pessoa melhor do que ele/ela foi comigo'.

*A sua família é um grupo de espíritos que já estavam juntos em vidas anteriores e se reencontram para tentar fazer o bem uns aos outros. Algumas pessoas conseguem cumprir esse intuito, outras não, e fazem da vida uns dos outros um verdadeiro inferno. O papel de cada membro da família é buscar a paz para o lar. De que forma você pode alertar a sua família para que percebam que, espiritualmente, devem procurar a paz no lar? De que forma você pode ser a luz de sua família?

* A sociedade é composta por espíritos ainda em desenvolvimento e o conhecimento é progressivo. As agressões que hoje cometem às diferenças são frutos de valores antigos ainda arraigados em nosso meio, convivendo com os novos valores e fazendo-lhes oposição por receio de perda da hegemonia, mas lembre-se de que na sociedade há espaço para todos os valores, dependendo apenas de que um respeite a particularidade do outro. Sendo assim, ame as suas particularidades e não se compare com as particularidades alheias. Cada ser é único no universo e se constroi a cada dia, de forma totalmente particular. Mais uma vez: seja mais você e bola pra frente.

* Faça exercícios de autoestima. 

Autoestima é o que você é, como se sente e pensa de si mesmx; é a maneira de ser ver, de se querer, de se expressar, de se relacionar com o mundo; é o seu estilo de vida, sua maneira de sentir, de cuidar de si; é assumir para si quem você é de verdade; autoestima é energia, é força que faz com que você esteja vivx, que te faz crescer, se desenvolver em múltiplas direções e, então, morrer com respeito e dignidade, naturalmente, após o cumprimento de sua jornada de aprendizagens, que terão continuidade no plano espiritual. Autoestima é algo que se é. É a pessoa que se quer, se respeita, valoriza e sabe-se importante pelo que é, ou seja, se autoestima. É a pessoa que assume os riscos da vida, enfrenta as dificuldades com integridade, com firmeza de ânimo, sabendo que é capaz de fazer-se valer, e sai fortalecidx dessas batalhas (Hora Luterana, adaptação textual).

Se você gostou do que o Espiritismo tem a te dizer, uma dica de leitura para o momento é o Livro Nosso Lar, ditado pelo Espírito André Luiz a nosso saudoso Chico Xavier, em que André conta com o que se deparou no plano espiritual após a sua morte. Leia.

Referências

LUTERANA, Hora. Os Pilares da Autoestima. Potyguara Gráfica. ISBN 85-89846-44-X.

MOREIRA, Andrei. Homossexualidade sob a Ótica do Espírito Imortal. AME Editora. Belo Horizonte/MG, 2012.

PONTES, Wilton. Decepção. Site Espitirinhas. Disponível em: <http://www.espitirinhas.com.br/2019/08/272-decepcao.html> Acesso em novembro de 2019.

______. Estamos Junto. Site Espitirinhas. Disponível em: <http://www.espitirinhas.com.br/2019/09/276-estamos-junto.html> acesso em novembro de 2019