Não há dogmas no espiritismo


As religiões em si constroem um corpo de ‘verdades’ em torno das quais giram as suas práticas, ensinamentos e condução/doutrinação de seus adeptos. São afirmações tidas por verdades absolutas, que não aceitam revisões com o passar do tempo. Geralmente possuem livros sagrados que compilam a sua fundamentação teórica.

O espiritismo, por sua vez, não possui livros sagrados e suas afirmações estão sempre abertas a revisão, a partir do entendimento de que o conhecimento é algo que se adquire de forma gradativa. As suas obras psicografadas possuem o mérito de ser contribuições das pessoas que se encontram no plano espiritual para com o desenvolvimento da espiritualidade das pessoas que se encontram encarnadas, mas até nestas obras há o reconhecimento dos próprios espíritos de que também eles não possuem saberes que sejam ‘verdades absolutas’ e que o saber se alcança conforme o ser amadurece a capacidade de entendimento.
espiritismo não é dogmatismo

Nesta linha de raciocínio se percebe por que há afirmações diversas no movimento espírita sobre a homossexualidade e transgeneridades, partindo do viés patológico (em Herculano Pires) e cármico (em alguns textos de André Luiz e Emmanuel), afirmado nas psicografias dos anos 50, para o viés de simples etapa do processo evolutivo, como encontramos em psicografias dos anos 90 em diante (com Joana de Ângelis).

Espíritas que buscam se prender a verdades absolutas fecham-se em um dogmatismo que não caracteriza a essência do próprio espiritismo, que exige de seus adeptos estudos constantes, atualização, não apenas do que se estabeleceu como textos da doutrina espírita, mas instruir-se em relação a realidade a volta, acompanhando o avanço do conhecimento nas mais diferentes áreas do saber, atentando-se ainda para o fato de que cada produção textual, seja ela espírita ou científica comum, acompanha a realidade do tempo em que é produzida, por isso a necessidade de não tentar aplicar à atualidade textos que foram escritos há décadas, sem uma análise apurada da realidade a volta, a fim de saber se novas produções a respeito do mesmo tema foram lançadas, atualizando o saber a seu respeito. 

Hoje se pede que as pessoas tenham cuidado ao ler os textos tidos como sagrados (Bíblia, Alcorão e outros), considerando-os como livros históricos, cujos preceitos não podem ser entendidos de forma literal; considerando que se aplicaram a um contexto histórico e cultural específico, a povos (antigos) específicos. O mesmo deve ser observado pelos espíritas em relação a suas produções, ou seja, que não se tome por dogmas aquilo que o próprio espiritismo entende não ser absoluto, uma vez que o saber se desenvolve e muda com o desenrolar da humanidade na roda viva da historicidade.

As pessoas espíritas devem ter em mente que questionar o teor das suas produções, considerando estas ou aquelas afirmações obsoletas em relação a realidade vivenciada no momento atual, não tira o mérito da comunicação dos espíritos para com a humanidade encarnada e cumpre um preceito recomendado pelos próprios espíritos, qual seja o permitir-se a aquisição de novos conhecimentos, através dos estudos constantes, buscando-se referencias atuais sobre cada tema de interesse.

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