Casamento gay ou união homoafetiva

Casamento gay ou união homoafetiva: Andrei Moreira
Devido a beleza da exposição de Andrei Moreira sobre esse tópico, optamos pela cópia integral do capítulo, o 10, no caso. Vai ficar enorme, mas super vale a leitura. Este é um daqueles livros que fazem a gente se sentir o Bastiam no porão da escola, lendo "a história sem fim". A geração dos anos 90 sabe do que estou falando. rsrsrsrs. (Qualquer coisa procurem o filme no youtube (rsrsrs), pra quem quiser fazer um cineminha básico com esse clássico infantil).

Vamos lá!!!
          
"Não assegurar qualquer garantia nem outorgar quaisquer direitos às uniões homoafetivas infringe o princípio constitucional da igualdade, revela discriminação sexual e violação aos direitos humanos, pois afronta o direito ao livre exercício da sexualidade, liberdade fundamental do ser humano que não admite restrições de quaisquer ordens". Segundo o censo de 2010, há no Brasil mais de 60 mil casais homossexuais vivendo junto sob o mesmo teto.
Em números absolutos, a região com mais casais homossexuais é o sudeste, que abriga 32.202 casais, seguida pelo nordeste, com 12.196 casais. 
O norte tem o menor número de casais do mesmo sexo: 3.429, seguido do Centro-oeste, com 4.141. 
A Região Sul tem pouco mais de 8 mil casais homossexuais. Entre os Estados, São Paulo é o que tem a maior quantidade de casais homossexuais (16.872) e Roraima é o que tem menos, com apenas 96 casais que se declararam homossexuais.
Já nos EUA, segundo o Censo 2000, há quase 600 mil lares constituídos por casais homossexuais. Um quarto deles possui filhos. As conquistas dos direitos das pessoas homossexuais têm avançado largamente na Europa e nas Américas. Até 2011, já são 10 países que aprovaram o casamento gay, sendo que, nos EUA os Estados de Connecticut, Iowa, New Hampshire, Vermont, Washington D.C e, mais recentemente, a cidade de Nova Iorque o aprovaram.
No Brasil, em fevereiro de 2011, foi aprovada pelo Supremo Tribunal Federal a união estável entre pessoas do mesmo sexo, o que não garante todos os direitos do matrimônio, visto que exclui a adoção, mas permite a união civil, pois a união estável entre pessoas do mesmo sexo foi equiparada à heterossexual, com os mesmos direitos e deveres.
À luz da imortalidade da alma, a união de dois seres que se amam e se vinculam em regime de construção conjunta no campo social e afetivo é conquista evolutiva, e nesse quesito não nos parece relevante se essas duas pessoas são do mesmo sexo ou não. Emmanuel foi questionado, certa vez, por pessoas interessadas em conhecer-lhe a opinião a respeito desse tópico:
Será lícito duas pessoas do mesmo sexo viverem sob o mesmo teto, como marido e mulher? A esta indagação o Codificador da Doutrina Espírita formulou a questão 695, em O Livro dos Espíritos, com as seguintes palavras: o casamento, quer dizer, a união permanente de dois seres é contrário à lei natural? Os orientadores dos fundamentos da doutrina espírita responderam com a seguinte afirmação: É um progresso na marcha da humanidade. Os amigos encarnados no plano físico com a tarefa de sustentar e zelar pelo Cristianismo Redivivo, na Doutrina Espírita, estão aptos ao estudo e conclusão do texto em exame. (Chico Xavier e Espírito Emmanuel, jornal folha espírita, julho de 1984).
Vale a pena observar a resposta do benfeitor. Ele apela para a capacidade de raciocínio dos espíritas, ao evocar o texto da Codificação a respeito do casamento e solicitar reflexões sobre o conhecimento à disposição da humanidade há mais de 150 anos. 
Com essa atitude, ele reforça o princípio do trabalho do insigne codificador Allan Kardec, o prof. Rivail, ao dizer, subliminarmente, que a verdade espírita não está na opinião de um ou outro Espírito, um ou outro médium ou estudioso destacado na doutrina, pois todos têm o direito a opiniões pessoais, podendo, inclusive, equivocar-se.
Com essa postura, Emmanuel reafirma a importância de se buscar a verdade espírita na coerência da informação, na fé raciocinada, a única que pode encarar a razão face a face em todas as épocas da humanidade, como nos ensinou Kardec. 
"A união permanente de dois seres representa um progresso na marcha da humanidade", informam-nos os orientadores da codificação espírita. 
Esse pensamento atende á lógica reencarnacionista, pois dois seres que se vinculam em nome do amor fortalecem-se para as realizações sublimes na formação da família, célula da sociedade, e nas realizações sociais fruto dos exercícios de fraternidade desse núcleo doméstico.
A união homoafetiva, quando baseada nos princípios do amor, do respeito, da afinidade e da honestidade emocional, pode gerar  múltiplos resultados positivos tanto para o indivíduo, quanto para a sociedade. 
Dá origem a uma nova qualidade de família, chamada homoparental, que pode incluir, além dos filhos concebidos em relações heterossexuais anteriores, filhos gerados por inseminação artificial ou adotados, em exercício de amor aos órfãos de afeto e carinho na humanidade.
Vale a pena observar que o matrimônio gay é um tema crítico, extremamente debatido em vários meios de comunicação em todo o mundo e que provoca debates acalorados. A propósito, questiona Marina Castañeda:
Por que isso se pesquisas demonstram que somente 4 a 5% da sociedade é exclusivamente homossexual, apenas uma terceira parte dos homossexuais tem uma parceria afetiva fixa (segundo pesquisa nos EUA) e apenas a metade deles desejam casar-se, sendo que nem todos tem condições sócio-econômicas para tal?
A questão, segundo ela, é que a discussão do matrimônio gay se converteu em um dos temas chaves, que definem aonde vai uma sociedade e onde estão suas linhas de fratura, abrindo as portas para uma discussão de valores religiosos, morais e  socioeconômicos de ampla repercussão. 
Muitos se preocupam e se posicionam contrários à legalização do casamento gay no Brasil, comandados por propagandas religiosas que demonizam os indivíduos e as relações homossexuais, temendo que a instituição da família homoparental vá destruir a família tradicional heterossexual. Trata-se de preconceito e desinformação.
A garantia de direitos a qualquer pessoa ou categoria atende aos pressupostos constitucionais de igualdade para todos, independentemente de sua orientação sexual, condição econômica, partido político ou afiliação religiosa. 
O medo da destruição da família tradicional se assenta em uma falsa crença a respeito do indivíduo homossexual, por ser acreditar que ele seja depravado, sedutor e destruidor de lares. 
A ideia por trás dessa atitude parece ser a de que o homossexual poderia seduzir os maridos ou as esposas (mais os maridos, pois o preconceito é mais voltado para o homossexual masculino), destruindo lares e promovendo o colapso da estrutura reinante em nossa sociedade.
Essa falsa crença tem origem na história da sexualidade humana, repleta de culpas, medos e manipulações pela Igreja ao longo do tempo. 
É útil perceber os conceitos presentes no inconsciente coletivo, que retrata tanto a história de cada um como a da própria condição homossexual. 
Casamento gay ou união homoafetiva: Andrei Moreira
Parece haver, por trás desse medo, a noção exata de que somos todos bissexuais psíquicos e, portanto, passíveis de sedução por qualquer dos sexos, independentemente da orientação do desejo atual.
Parece haver, também, uma percepção de que na história de uma parte dos homossexuais se encontra um passado de abuso afetivo-sexual e de destruição de lares, conforme informa André Luiz no livro Ação e reação. Parece haver, ainda, um medo secular de lidar com as questões que dizem respeito ao prazer, sobretudo na esfera da sexualidade. a homossexualidade é considerada por muitos como uma condição de esterilidade (embora não o seja); dessa forma, não estaria direcionada para a perpetuação da espécie e seria voltada para o prazer do indivíduo. Este, frequentemente, é visto como descompromissado e leviano, devido ao mito da promiscuidade do homossexual.
Outra questão que se levanta é que muitas pessoas acreditam que o homossexual, sendo Espírito que traz comprometimentos do passado, deva viver a abstinência sexual ou se esforçar por viver um relacionamento heterossexual, em busca da "normalização". Naturalmente, esse pensamento baseia-se na cultura heterocentrada e na apologia do sofrimento como forma de expurgo do passado e de evolução, o que, subliminarmente, remete ao castigo divino de um Deus punitivo apresentado pelo pensamento judaico-cristão-ocidental.
É fundamental salientar que Espírito nenhum evolui exclusivamente por sofrer. O sofrimento é recurso pedagógico, e não finalidade. O que promove o crescimento no sofrimento é a maturidade conquistada no processo do bem sofrer.
Em qualquer experiência, o amor é o caminho por excelência. "Misericórdia quero, e não sacrifício" (Mt 9:13), disse o Cristo. "Eu vim para que tenham vida e vida em abundância" (Jo 10:10), asseverou o Mestre.
Já discutimos anteriormente a questão da abstinência sexual imposta. A relação homossexual baseada no amor e nos valores do respeito e do cuidado recíproco são fontes fartas de reeducação afetiva e aprendizado dos valores, objetivo de boa parte das experiências homossexuais. Para isso, não é preciso que o indivíduo tenha que lançar mão do sofrimento decorrente da solidão completa para reeducar-se, pois, via de regra, ela deforma o ser e o definha ao invés de renovar-lhe o coração.
As dificuldades de reconhecer-se homossexual, vivendo uma variante do comportamento afetivo e sexual dominante, já é desafio e sofrimento suficiente para estimular o ser a experienciar o autocuidado. O homossexual tem direito, como todo ser humano, a uma vida plena de troca, partilha e comunhão afetiva, tão profunda quanto seja possível, perante a sociedade e a sua capacidade de adaptação e resiliência, diante da homofobia internalizada e do preconceito social. Sabiamente, Emmanuel nos esclarece que:
O casamento ou a união permanente entre dois seres, como é óbvio, implica o regime de vivência pelo qual duas criaturas se confiam uma à outra, no campo da assistência mútua. Essa união reflete as Leis Divinas que permitem seja dado um esposo para uma esposa, um companheiro para uma companheira, um coração para outro coração ou vice versa, na criação e desenvolvimento de valores para a vida. (Chico Xavier e Espírito Emmanuel, Vida e Sexo, cap. 7, p.33).
Percebam a sutileza de Emmanuel em acrescentar "duas criaturas" e "um coração para outro coração", o que, em nossa interpretação, não se deve a recurso linguístico para dar maior ênfase à informação ou conferir poesia ao discurso. É, sim, recurso psicológico de cuidado e inclusão, para permitir que o texto, que sobreviveria ao progresso dos tempos, contivesse uma informação inclusiva, em acordo com sua opinião expressa anteriormente e publicada na Folha Espírita de 1984. 
Se pensarmos, ainda, que uma boa parte, senão a maioria das experiências homossexuais visa à reabilitação do afeto e as reajustamento perante a responsabilidade pessoal e para com o outro, o casamento homossexual apresenta-se como recurso terapêutico por excelência, promovendo a oportunidade da consolidação dos laços profundos e sagrados da cumplicidade, do respeito e da amorosidade nas criaturas.
Ao longo de uma série de exposições doutrinárias na Europa, vimos pessoas e casais homossexuais na direção de casas espíritas, nas tarefas de exposição doutrinária e na mediunidade, integrados e equilibrados, sendo respeitados pelos seus parceiros de trabalho espíritas, valorizados e bastante produtivos, vivendo uniões ou casamentos dignos de respeito, que nos testemunham o valor do amor, independentemente da orientação sexual.
Por tudo isso exposto, acreditamos que o casamento homossexual seja não só um direito inalienável das minorias homossexuais, mas igualmente um progresso na marcha da humanidade, que não segue linearmente anulando o que veio atrás, mas somando às construções, que se complementam ao longo do tempo. O casamento homossexual, longe de anular os valores sagrados da família heterossexual, os consolidará ainda mais, fazendo com que a diferença e a multiplicidade forneçam a riqueza de uma sociedade alteritária e fraterna, característica de um mundo de regeneração. Como afirmou com propriedade Luis Fernando Veríssimo:
Os gays são mais conservadores do que seus críticos, pois lutam para preservar e prestigiar uma instituição que parecia estar agonizando, vítima da nova moral sexual. (...) Quando o casamento parecia a caminho de se tornar obsoleto, substituído pela coabitação sem nenhum significado maior, chegam os gays para acabar com essa pouca-vergonha. (Luís Fernando Veríssimo, Espíritos opostos) (MOREIRA, 2012, P. 215 - 223).
homossexualidade sob a otica do espirito imortal

Atualizando: Assista também esta reportagem produzida pela TV Mundo Maior.





Referências


Comentários

Anônimo disse…
eu acho muito bonito uma cerimonia de casamento duas almas que se amam de verdade com o proposito de se amarem e de se respeitarem pro resto da vida mais na verdade sera que O CASAMENTO TEM GARANTIA PRA TODOS? Muitos casais gays sonham com isso tbm.Mais sera que a sociedade esta preparada e aceitar esse tipo de relacionamento e uniao? tenho esse sonho tbm.mais infelismente esse direito e´ negado pra pessoas como eu.
Anônimo disse…
se Deus fez a mulher para o homem e o homem para a mulher como muitas religioes afirmam usando a Biblia para justificar isso. seDeus fez a mulher para e o homem para a mulher ,pq ele deixou essa dor dolorosa nos seus filhos.Por isso que eu nao acredito em Deus.
Sobre o primeiro comentário - o casamento homoafetivo na igreja, pelo que percebi - uma vez um padre disse algo que realmente guardei para toda a vida: "quando duas pessoas se amam de verdade, e tem o propósito de estar juntas, não precisa cerimônias, não precisa símbolos nem festas. Para se unirem basta que se digam querer e estabeleçam entre si a união, sozinhos, embaixo de uma árvore, como seja, que, espiritualmente, está estabelecida a união".

A realização de uma cerimônia de casamento homoafetivo varia de religião para religião. Na história do Catolicismo ainda não aconteceu, não que saibamos; mas tem uma reportagem da TV Mundo Maior em que foram entrevistar casais gays de uma Igreja Batista, que acabavam de sair da cerimônia de seus casamentos (veja nesta playlist: https://www.youtube.com/watch?v=KXsD2CgZtVg&list=PL3GppsGSv_Mxyfhz6RABVZLH7zSMTJ7Rb)

Sobre o segundo comentário, a questão não é você acreditar em Deus e sim se perguntar se deve acreditar no que disseram que foi Deus quem disse. Gosto muito de usar esse trocadilho: disseram que Deus disse, então é verdade?

Os ditos textos sagrados não podem ser lidos fora do contexto da época em que foram escritos e não podem ser aplicados a nossa época sem que se leve em consideração os avanços atuais da humanidade sobre os temas que estes textos trabalham (veja que segundo um destes textos antigos é o sol quem gira em torno da Terra. Procede para a atualidade?).

Unknown disse…
O dr Andrei é um viado,nojento.
Responderemos a comentários com este teor em respeito aos demais leitores, ao público LGBTQIA+ que acompanha a página, que estão acompanhando as postagens e merecem uma devolutiva.

Posturas como esta demonstram para nós o quanto ainda se tem a evoluir no campo das ideias sobre alteridade.

Estamos indo. Já são enormes os avanços. Chegaremos lá, como previsto por André Luiz: "No mundo porvindouro todos serão tratados em pé de igualdade."

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